segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Nudez e cultura

E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam. Gênesis 2:25

















Esta semana uma menina de 13 anos se apavora com a imagem no quadro que tem na sala de casa: por que aquela mulher está pelada? Mais que uma curiosidade a sua pergunta carrega um tom de reprovação e, ao mesmo tempo de estranheza.

Minha mãe estranha o comportamento da garota. Mesmo sendo filha de uma presbiteriana ferrenha, ela foi educada de forma que o nu fosse visto de forma natural. Eu mesmo me lembro de minha avó repreendendo alguns de meus primos quando eles riam ou faziam piada diante da nudez. Para ela, esse tipo de comportamento denotavava "malícia", um sinal de que aquela nudez era vista com um teor sexual e não apenas como um corpo.

Esse paradoxo da minha avó é interessante. Afirmo o paradoxo porque há em seu comportamento uma repressão da sexualidade o ver "com maldade". Ao mesmo tempo há algo libertador, em especial para uma mulher nascida na alvorada do século passado no interior do Rio, de que o corpo é um dado natural e que o mesmo não deveria ser ridicularizado ou ao mesmo tempo estranho.

Mas se o corpo é estranho mesmo entre adultos - os nossos esforços em querer modificá-lo de certa forma está relacionado a isso- imagine em uma menina de 13 anos que está começando a passar pelas mudanças da adolescência?

Minha mãe me chama a atenção para um outro ponto. Em suas palavras, "ignorância". Pensamos como as coisas se dão em Araruama. Em geral a diversão dos adolescentes de classe média aqui nos fins de semana é sair para comer ou, quando muito, assistir a um blockbuster em uma das duas únicas salas de cinema da cidade.  Um dos poucos museus está afastado do centro, o Teatro Municipal é pequeno e subaproveitado e posso dizer que, comparado com os demais municípios da região pode se dizer que há muitas coisas aqui.

O ponto de reflexão aqui é a forma como o "nu artístico" é encarado pela menina. Isso somente dá por questões psicológicas da idade ou mesmo relacionado à sua criação familiar ou a falta de investimento em atividades culturais também não se liga ai?

O risco neste caso é cair num discurso elitista no qual a apreciação de  "obra de arte do artístico num museu bacana incluindo esculturas e pinturas de nu" fosse apenas para pessoas de fino gosto e que lidam de forma "natural" e refinada diante desses aspectos. Acho que se pode pensar para além disso.

Tomo como exemplo a televisão, que torçam ou não o nariz, é um elemento de cultura de massa. Esses dias alunos meus comentavam como iludiam os pais para poderem assistir ao seriado "Gabriela" porque alguns deles os repreendiam (em especial as meninas) por terem cenas de muita "indecência". De qualquer forma isso aponta que as representações artísticas da nudez (acompanhada nesse caso com a sexualidade) não se dão somente em espaços restritos.

O que eu penso nesse caso é até que ponto lidamos com a nudez? Com a sexualidade? As duas precisam estar necessariamente juntas? Ou não? E quando estão, como se apresentam? Onde elas se representam? Só em espaços elitizados? De que forma isso pode ser dito? E melhor, como dar voz aos jovens para que eles possam expressar suas dúvidas, choques, repressões de forma natural e para que seja superada essa dicotomia da maldade x nudez? Por fim, como nos livraremos das nossas folhas de parreira sabendo que, todo homem, todo lobisomem está cheio de inferno e céu, como diria Caetano ?

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