sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Ainda sobre a garrafa

Aquele momento em que paro uma suposta sequência de posts por conta de um insight.

Hoje conversava com um amigo sobre um rapaz que, diante da desilusão amorosa, começou a esculhambar o mundo: "as pessoas são canalhas, o 'meio' não presta, todos querem se aproveitar de mim" e, em um dado momento a fala foi dirigida para si "estou com nojo de mim, eu faço escolhas erradas sempre!"

Daí começamos a pensar em nossas histórias amorosas e de uma fala que esse meu amigo me disse há tempos sobre o quanto é importante, mesmo que dado relacionamento tenha um significado importante, há um momento de "esvaziar os bolsos" e entender que não dá mais pra manter a nossa cabeça obsessiva naquela relação que já se foi.

Lembrei-me da metáfora da garrafa na geladeira, que já usei em diversos textos meus. A água dentro dela já está quase no fim, mas daí você não bebe toda e deixa um restinho ridículo de água (que não encheria nem 1/10 de um copo) dentro dela para ter a sensação de que ainda há algo ali, que a garrafa não se esvaziou por completo.

Sempre parei nesse ponto, do horror ao vazio e ao fato de não encararmos a falta. Mas hoje pude ir mais além um pouco nesse pensamento.

Como assim?

Quando a água na garrafa está prestes a acabar, temos algumas possibilidades: tomar também aquele resto que sobrou, jogar o resto fora, encher a garrafa com mais água ou, ainda, deixá-la vazia na pia e decidir depois se a enche ou se vai dar a tarefa para outra pessoa.

Se o resto fica, todas essas possibilidades que falei ficam sob responsabilidade de uma outra pessoa. Estou cogitando neste exemplo caso de haver mais pessoas na casa e que aquele que deixou o resto não vai mais mexer na garrafa.

E por vezes é isso que fazemos com os nossos restos: deixamos para que outros tomem decisões sobre ele, para que ele sim se confronte com a falta que não é dele, mas sim nossa. Não é mais ou menos isso que fazemos quando, muitas vezes, estamos acusando o mundo pelos nossos fracassos amorosos?

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