quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Cruzeiro - Dia 1

Tivemos que acordar relativamente cedo, mas almoçamos rapidamente mais cedo para chegar a tempo. Já a fila me parecia um grande ensaio antropológico da classe média. Enorme, sob aquela Perimetral prestes a ser derrubada em uma horrorosa Zona Portuária. E tome tempo de espera.

Daí após algumas horas chega a vez de ser atendido e uma guria entrega um formulário para meu amigo. Nele você preenche os dados e o número do cartão de crédito para ser usado em seu cartão dentro do navio. E perguntei pelo meu formulário e daí ela disse que era “apenas 1 por cabine”.
Inconformados, mais tarde, enquanto esperávamos a nossa vez – nossa senha era a de número 13- procuramos por uma outra moça do atendimento que disse que a tal guria estava equivocada. E depois de ver um bolo de formulários pude preencher os meus dados individualmente. Sem falar na ironia que a outra fez em relação a tal guria: “ah, coisa de gente iniciante, sabe como é”.

Enquanto isso uma galera tocava um pagode muito ruim, fora de ritmo total. Como diria Dona Reginalda, que sabia tudo de samba, parece com o samba daquela galera que acha que sabe lidar com o pandeiro e no fim tem que comprar uma cerveja pra dividir com 10, porque não faturam muito.

E eu com aquele senso de observação já consegui mentalizar alguns personagens: “Posto 2”, que era um loiro gordo-parrudo grandão, a “ursa” (porque era o mais bonito dentro desse “padrão”) que em todo lugar para onde íamos ela estava presente, o “Cramus” que era um cara bem parecido com um amigo que tem esse apelido, e claro, a “Marte-Urano”, termo que merece aqui uma explicação:

(No meu mapa natal eu tenho uma quadratura entre esses dois planetas. Marte, o planeta da vontade e do desejo – incluindo o sexual- se encontra em Leão na 12ª casa em quadratura com Urano, planeta que mostra onde você é mais criativo e contestador, em Escorpião na 3ª casa, o que, segundo a Astrologia, mostra um conflito entre desejo e transgressão, o que meu amigo identifica no meu tesão em homens mais velhos fora do ‘padrão’ hahaha. A coisa generalizou e hoje em dia todo coroa recebe essa alcunha: “Marte-Urano”. Enfim, as minhas amizades são sempre com dialeto próprio)

Enfim, a tal Marte-Urano ficava o tempo todo me olhando e coçando as partes, até o momento que se juntou a ele um grupo de mulheres, uma delas parecendo a sua mãe e aí foi o fim da brincadeira L
Então a nossa vez chegou e, no momento em que avistava os guichês, eu vi que a tal guria do “formulário único” estava lá no guichê. Foi quando eu disse a meu amigo “A gente vai ser atendido por ela e ela vai fazer merda”. E como numa versão trevosa de “O Segredo”, a tal lei da atração funcionou: fomos atendidos pela guria e ela entregou para gente dois cartões de outros passageiros. E mais um drama da classe média para trocar os cartões e corrermos para achar a entrada para a fila do navio e que TODOS os funcionários deram a indicação errada. Parecia que eu estava dentro de um filme que misturava Kafka com Além da Imaginação e uma siticom dessas da Fernanda Young/Alexandre Machado.

Enfim, a fila andou rápido e pude ver o navio, que para mim era um colosso e, para meu amigo, mais acostumado a cruzeiros dizia “ah Di, não é nada, há ainda maiores que esse”.

E finalmente entramos e já gostando da equipe. Na entrada havia um careca que era uma versão mais gorda do ator pornô Eddie Diaz e um brancão americano de cabelos negros e olhos azuis que mexiam com a imaginação. Enfim, não poderia deixar esse registro de lado ;)

Foi o tempo de entrarmos no navio, conhecer o camareiro – que parecia colombiano, muito atencioso – partir para a janta (e encarar o galerão e sorte de encontramos lugares para nós ficarmos de boa). Aliás esse momento foi ótimo, porque me lembro de meu pai dizendo o quanto era gostoso estar em um navio fazendo a refeição olhando para o mar.

E então o navio partiu e pela primeira vez na vida pude ver a Baía da Guanabara em sua entrada de uma forma mais próxima e boa parte do litoral fluminense. Era bem interessante como ao longe a gente se dá conta de como o litoral fluminense que vai da Guanabara até o Cabo Frio é relativamente pequeno e eu poderia vê-lo todo. Pensei que essa era exatamente a parte onde viviam os Tamoio, já que após o Cabo Frio era domínio dos Goitacá, meus ancestrais. Inclusive foi legal quando uma moça de Saquarema (cidade vizinha de Araruama) reconheceu a iluminação verde ao longe que era da Igreja Nossa Senhora de Nazaré.
Então chegou a hora do jantar à la carte, nós éramos do segundo turno. Para nosso azar tivemos que dividir a mesa com um casal de meia idade muito chato. No caso o marido que determinava tudo o que a mulher tinha que comer. Após fazerem a oração, comemos num certo silêncio e nem o vinho ajudou a me animar. Então chega o cheesecake de morango do meu amigo q e mulher olha com o ar de “eu queria, mas não posso porque meu marido exigiu que eu pegasse outra coisa”. Enfim, decidimos que a partir daquele dia não jantaríamos mais ali e sim no buffet self-service.


No fim da noite, antes de ir dormir, fiquei feliz por saber que havia bebida na promoção. Vodca Absolut por 18 dólares, mas não era ela que me interessaria mais ali. O lance foi aproveitar o balanço do navio e dormir confortavelmente.

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