quinta-feira, 29 de março de 2007

Leitura



A pior coisa que pode acontecer é você ler um livro e achar que o autor colocou um monte de bobagens disfarçadas com pretensa erudição. Pior ainda é ter o livro com o autógrafo do próprio e lembrar da simpatia forçada dele na noite de lançamento. E desesperador é quando você se sente acusado pelas próprias palavras do livro justamente por discordar de suas idéias. Ah sim, não é um livro religioso...

quarta-feira, 28 de março de 2007

Sem cortes

Hoje estava passando a reprise de "Sex in the City" no Multishow. Aquela série sobre 4 mulheres completamente neuróticas, lotada de DRs muitas vezes sem sentido, encarnando a pseudo-complexidade de assuntos de pessoas bem sucedidas na capital do mundo desenvolvido. Muitas vezes apresenta uma psicologia barata como se fosse algo complexo, mesmo assim é um seriado interessante e gostoso de se ver às vezes, em parte pela atuação do elenco e por outro por usar um clichê arquetípico que cola fácil: duas neuróticas obcecadas com um príncipe encantado, cada uma a suma maneira (Charlotte e Carrie) e duas mulheres aparentemente mais independentes (Miranda e Samantha) igualmente neuróticas.

Hoje Charlotte, a mais carola das 4, ficava surpresa pela primeira vez ter visto um cara com o pênis não circuncidado. Quando Samantha - o oposto de Charlotte - pergunta se ela nunca tinha visto um pau "uncut", ela responde "eu sou de Connecticut!". E lá seguia uma dr boba e divertida sobre homens circuncidados x homens não circuncidados.

A circuncisão é um rito que consiste na retirada do prepúcio: a pele que envolve a glande peniana. Ao que me parece, um rito judaico que representa a aliança do homem com Deus. Mais carregado de simbolismo, impossível. Esse mesmo ritual é praticado por mulçumanos e os puritanos protestantes levaram essa prática para os Estados Unidos, combinando a religião com a noção extremamente asséptica que eles têm das coisas, embora hoje em dia já existam organizações voltadas contra a circuncisão. Tanto é que existem filmes pornôs gays que já colocam o pênis "uncut" como um fetiche, coisa que para nós brasileiros é tão corriqueira.

Curiosamente hoje saiu uma recomendação da Organização Mundial de Saúde sobre a circuncisão e a AIDS. Eu já tinha lido pesquisas a respeito do assunto e comparava os índices de AIDS nos países subsaarianos. Nos países islamizados - aqueles em que os homens fazem a circuncisão- os índices de contaminação ao HIV era mais baixo que não havia essa prática.

Isso dá pano pra manga e pode sugerir a idéia de uma circuncisão masculina em massa como forma de evitar o flagelo que a AIDS é na África. Na realidade esse flagelo apresenta uma correlação de forças : guerras, miséria, baixo nível educacional, violência, falta de poder das mulheres em negociar o preservativo na relação, etc. Por outro lado a diferença entre os casos de Doenças Sexualmente Transmissíveis e HIV entre os circuncidados e os "não-circuncidados" se deve ao fato de que os últimos precisam ter uma atenção maior com a higiene peniana, pois o prepúcio esconde uma verdadeira "fauna" de micróbios. Parece que a idéia de "vamos fazer circuncisões em massa" traz algo "prático": todos tiram a pele fora e não há de se preocupar com a limpeza e estaremos livres do HIV. E a coisa não é bem por ai...

Enfim, não sei o que deu na minha cabeça para falar de circuncisão hoje. Deve ser crise de abstinência.

O PAC na "cidade de cidades misturadas"

Hoje foi dia de ver RJTV e a Leilane com o seu tradicional "boa noite e muita paz" como se pedisse a todos os santos, orixás e espíritos de luz para que nenhuma bala perdida venha da favela pra casa dela.

Ah sim, a tal verba do PAC- Programa de Aceleração do Crescimento- que o Luis Inácio está liberando para o Rio, dizem, será destinada para favelas, incluindo a Rocinha, que avança sobre a Mata Atlântica tão cantada em verso e em prosa. Bacana? Vejamos:

O Rio de Janeiro é uma cidade montada em uma política higienista que começou na virada dos séculos XIX / XX. É sabida as grandes obras do Prefeito Pereira Passos, entre elas a Avenida Central - hoje Rio Branco - e a transformação do Rio em uma "Paris tropical". Sou morador da Glória, bairro que testemunha bem essa fase do Rio.

Também nesta época teve o famoso "bota abaixo" com a remoção dos cortiços do Centro, para livrar "daquela gente suja e que transmitia febre amarela". O momento mais dramático desta parte de nossa história foi a chamada "Revolta da Vacina".

O século ia correndo e a capital federal ia removendo os moradores de vilas operárias, a exemplo do que ocorreu no Jardim Botânico e em Laranjeiras, para áreas mais distantes e criando esse conceito fetichista nosso chamado "Zona Sul".

Nos anos 60 a capital mudou-se para o Planalto Central e o Rio também já não era mais a maior cidade brasileira. Criou-se uma cidade-estado,a Guanabara e o governador Carlos Lacerda promoveu a remoção de algumas favelas - agora já crescidas e mais numerosas- em áreas nobres da cidade, como em Botafogo, Humaitá e Lagoa. As pessoas eram removidas e mandadas para partes distantes da cidade. Foi aí que surgiu a famosa Cidade de Deus, em Jacarepaguá e a menos famosa Vila Aliança, em Bangu, onde já trabalhei.

O plano de Lacerda ainda incluia a criação de linhas expressas, provavelmente para atender ao "povo pobre que estava longe" mas que precisava servir como força de trabalho no Centro e na Zona Sul. Tem-se então, além de obras como o Túnel Rebouças - hoje marco da divisão da cidade entre zona sul e zona norte - o projeto das linhas expressas "coloridas" só prontas 30 anos depois: a Vermelha e a Amarela, tendo esta última uma estranha cobrança de pedágio. Ainda tem-se a inacabada Linha Verde - que alguns dizem ser a auto-estrada Lagoa Barra, outros falam na ligação Gavea-Via Dutra incluindo a avenida Automóvel Clube e o túnel Noel Rosa - e a marrom, que eu nem faço idéia de sua ligação.

Hoje temos o prefeito do "favela bairro" e que acusa migrantes nordestinos- como seus pais- de trazerem a dengue pro Rio de Janeiro. Além disso ao que parece querem pegar as verbas do PAC para construirem prédios na Rocinha, mas ao que parece nenhum morador ou associação foi consultado a respeito e já é alvo de críticas.

A favela avança para a mata e já teve idéias como fazer um muro de contenção das favelas, o mesmo não valendo para as casas grã-finas do Joá que fazem o mesmo. E tenho a sensação que estamos ainda na época do "bota abaixo" e as seringas ao invés de vacinas injetam drogas e dinheiro numa guerra com tiros a esmo, sem escolher em que lado da cidade fará vítimas.

terça-feira, 27 de março de 2007

Janela da alma

Estava lendo um texto no "Consultório" sobre os reality-shows e toda essa questão do olhar e do saber. Me lembrei, pra variar, dos Três Ensaios sobre a Teoriada Sexualidade, beabá da psicanálise, no qual Freud aponta na criança a questão da escopofilia - que é o prazer no olhar - e da "Pulsão de Saber", que trabalha com a questão do olhar.

Saber e olhar...olhar e saber.

Alguém me diz sobre o meu "olhar distante". Algo carregado com uma certa altivez e ao mesmo tempo uma certa neutralidade. Me lembro de outrem dizendo-me que me acha perdido... e daquela menina que confessou pouco saber sobre mim.

Meus olhos têm uma peculiaridade familiar. São parecidos com os do meu avô paterno, olhos escuros, diferente das outras pessoas da família. Sensação de pertencimento e identidade?

E se os olhos são a "janela da alma" talvez tenha colocado negras cortinas nela. Nada demais. Em um universo lotado de pessoas preocupadas mais em falar e pouco ouvir talvez seja necessário esse tom mais fechado. Defeito? Qualidade? Quem sabe?

O fato é que Alguém, com uma simples expressão sobre meu olhar, me desnudou e abriu essa janela. E sabe mais a meu respeito.

Would I write a book? Or should I take to the stage?

Já que não fui ao show dos Pet Shop Boys resta-me o consolo, em uma espécie de dissonância cognitiva mal feita, ouvir o cd que o Eder me mandou. Nele há a versão que considero definitiva de Left to My Own Devices, para mim a melhor música deles. E ela sempre fez muito sentido pra mim, mas creio estar em um momento especial- será que estou naquela idade dificil a que se refere a música? - e precisando estar me virando com aquilo que eu tenho, material e emocionalmente.

Vale a pena ouví-lo apesar do Robbie Williams em "Jealousy".

segunda-feira, 26 de março de 2007

Barbie transformista?

Para quem quer rir um pouco, esse video é ótimo. Destaque especial para essa nova versão da Felina que merece o Oscar de melhor atriz coadjuvante:

domingo, 25 de março de 2007

Cinema Nacional

Diálogo:

Esposa: E então, você dormiu com elas?
Marido: Bem, elas são bonitas jovens...
Esposa(rindo): Filho da puuuuuuuuuta


Tirado de "A ilha dos Prazeres Proibidos" (1979) de Carlos Reichembach. Bons tempos antes da Conspiração e da Globo Filmes.

Sonhar não custa nada?

Mais um sonho meu devidamente colocado no blog específico para ele. Cheio de elementos fálicos entre eles pilhas e uma novidade, o preço de uma delas por R$ 99,90. Virando este número de cabeça pra baixo temos o zero ao lado do 666, número da besta. No dicionário de sonhos pessoais do Didi, 666 não é o demônio judaico-cristão, mas a sexualidade, sempre "demonizada". E o zero, claro, representando lindamente a castração ou pelo menos os orifícios (vagina? ânus?). Enfim, mais um trabalho para a análise de mim mesmo.

Geneticamente modificado

Acabei de ler isso no blog Hairybears:


WHY ARE BLACK GUYZ SO POPULAR AMONG WHITE MALEZ ? ? ?

01. Cock Size
02. Dark Skin
03. Attitude
04. Open Mind
05. Roughness
06. Cute Body
07. Difference
08. Sense of Domination
09. Sex Power
10. Heart


Reconheço que até hoje fiquei mais com brancos do que com negros. O mesmo se deu com cantadas que eu recebi. Todavia, destes 10 itens eu descartaria em mim pelo menos uns 6.

É como diz o Bruno, parafraseando a Sheila: "somos geneticamente modificados".

Politicamente correto?

Uma coisa que gera muita polêmica é o chamado "politicamente correto". Uma espécie de censura ou troca de termos para as coisas ficarem "menos ofensivas". Só que muitas vezes, como dizia minha falecida avó, a emenda sai pior do que o soneto.

Este movimento veio graças a manifestação de diversos grupos marginalizados da sociedade pela forma como são tratados. A democracia ensina e obriga a conviver com as diferenças de pessoas. Afinal todos merecem ser tratados com igualdade pois todos nós somos diferentes uns dos outros. Ainda que muitas vezes, no mundo atual, vemos grupos de pessoas que parecem exatamente iguais, como que saídas de uma fábrica... mas este é outro papo.

O "politicamente correto" apresenta como sua sombra direta o "politicamente incorreto". Esta dita sombra pode apresentar-se como uma contestação necessária, especialmente no humor, a uma série de podas que o primeiro tem colocado nas idéias.

O outro lado do "politicamente incorreto" é que coisas antigas, realmente discriminatórias e ofensivas podem ser vistas como igualmente contestadoras quando na realidade não são. Já vi piadas racistas, homofóbicas e machistas sem a menor graça, mas que ganha uma pecha de "inteligente" ou de "humor negro" por conta da chatice que o "politicamente correto" pode se tornar. Neste ponto vale a frase de Arnaldo Jabor - que fala muitas besteiras, é verdade - na qual ele diz que antigamente a vanguarda chocava a classe média. Hoje a classe média choca a vanguarda. E quando o "mediano" ou "medíocre" sai do mundo do consumo e ganha o mundo das idéias - que também estão para serem consumidas - é sinal de que alguma coisa errada está acontecendo.

Existe a categoria "humor negro". Não gosto de dividir o humor entre "humor negro" e "humor não negro". O que existe é humor inteligente e humor mal feito, seja com que tema for. Não é o fato de simplesmente colocar em uma piada uma personagem que sofre de câncer, por exemplo, que vai torná-la engraçada. Tampouco a ausência dela. O que é terrível é o uso da ironia para mascarar a burrice, a mediocridade e a grosseria gratuita. E isso tem acontecido aos montes. Graças ao politicamente correto, que na luz, sempre projeta sua sombra.

Casa Nova

Decidi mudar de blog, pois de uns tempos pra cá creio que o blogger melhorou seu sistema para analfaburros em templates, visual e outras coisas de blog. Como a "Colcha" hospedada no "myblog" estava muito feia, mesmo me oferecendo mais facilidades de recursos, decidi mudar. Outro fator também foi para facilitar a vida de quem usa Firefox bem como o fato do sistema de comentários aqui ser melhor.

Só não adotei o mesmo nome do anterior porque existe um blog fantasma por ai chamado "Colcha de Retalhos". Por isso sejam bem vindos ao Liquididificador, onde processo as minhas idéias caóticas como uma vitamina de banana que eu detesto ou como uma boa mousse de maracujá (gordo não tem outro assunto).