domingo, 3 de abril de 2011

As leis de cá e acolá II

II) Acolá

Nunca te vi acolá. Meu acolá é incompatível com o teu. O teu tem nudez parcial e obrigatoriamente rígida enquanto a minha tem fraquezas como forma de mostrar sua força.

Acolá você tem encontros mudos com o teu desejo capenga. Já escrevi algo sobre como nos sentimos bem no escuro e é no escuro que você despeja teus desejos. Nessa escuridão de acolá você só age movendo-se em certos pontos e certifica-se que não é visto pelas pessoas de cá. É onde você forja uma imagem que parece ser uma proteção pessoal e original quando o que você faz é o mesmo que todos os outros fazem ao negarem o proprio desejo. Outro dia você usou a palavra "discretão", típica de quem vive acolá.

O problema acolá não està na palavra, mas no envolvimento. Envolver-se é mais poderoso que as palavras. E ele também é confronto e seu jeito de amar, pensa você mesmo, é banal, sem grandes emoções.

Acolá, Adão e Eva se reconhecem nus e escondem os genitais com as folhas. Os bárbaros invadiram o Império e os hebreus fogem no ano 70. O reino està sem rei. Altares estão destroçados e toda lição de casa é sem sentido. Não há credos ou pensamento.

Acolá o líder cara pintada abraça o ex presidente, pois estão os dois na mesma casa com o mesmo interesse. E o empresário cheira pó escondido no banheiro. Você pode não ser exatamente o político ou o homem de negócios mas assim como eles há com você um estranho desejo da morte para algo que mal nasceu dentro e agoniza em uma incubadora chamada passividade. Acolá o anonimato o esconde e assim você pode manter as mesmas leis de cá, ainda que eu já tenha visto o não cumprimento delas junto com uma desculpa esfarrapada. É a sua forma de se manter apegado a elas.

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