sábado, 29 de outubro de 2011

Da Trip de Outubro

A revista Trip desse mês tem essa capa ai do lado. Pode parecer bobo, ou lugar comum, dois homens se beijando. Mas como me disse o Matias em uma conversa, o que pode parecer natural para uns, parece estranho para outros. Parece tese sobre a teoria das Representações Sociais, mas na verdade é algo que o senso comum pode observar.

Ontem mesmo, voltávamos eu e Osmar da Cinelândia. Antes de tomarmos a condução, paramos na banca. Ele para comprar cigarros e eu aproveitei para procurar a revista. Não foi surpresa minha ver que esta eduição da trip estava escondida atrás de outras.

Agora explicando para quem não conhece o Ridejanero: a Cinelândia, a.k.a, Praça Marechal Floriano, está situada no coração da capital Fluminense. Na região tem-se o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, prédios comerciais, o cine Odeon - mantido pela Petrobrás tem um ar "cult"- e é ponto de prostituição masculina.

No Odeon era dia da mostra LGBT. Na praça, vários michês a oferecer seus serviços. E não é estranho ver revistas como G Magazine à mostra nas bancas.

O interessante é que o beijo é mais chocante. Por uma visão romântica - aliás me lembrei do epíteto "prostitutas não beijam" - o beijo sela algo mais, o amor. Leituras antropopsicológicas que li, diz que o beijo rompe as barreiras do ativo/passivo, pois a entrada e saída das línguas são mútuas. E por mais bobo que possa parecer, ainda assim, tem certa iconoclastia nele.

O Hebert Daniel dizia em uma reportagem da Manchete antiga feita no Aterro do Flamengo que aquele local de pegação era na verdade um grande teatro de pessoas que escondiam os seus desejos. Antes do encontro com o Osmar, com um amigo que vivencia a sua sexualidade na maior parte das vezes desse jeito e compartilha da ideia do "esse beijo pode chocar as pessoas" ou tem hábito de recriminar moças que andam com short curto demais, dado o ranço religioso que ainda carrega. E naquele mesmo dia tinha feito um "atendimento" no banheiro de uma loja ali próxima.

Usando a clássica frase de Caetano que diz " a gente não sabe o lugar certo onde coloca o desejo", digo que isso se reflete no que vi nessa última sexta. Tentamos colocar ou na pegação, ou no discurso moralista - é legal reprimir nos outros o que não gostamos na gente, não é mesmo? - ou escondemos a revista. Só pela capa, valeu Trip, por pelo menos mexer em parte com esses desejos que tentamos colocar no fundo de uma banca de jornal.

Nenhum comentário: