domingo, 19 de outubro de 2008

Questão de gênero

Creio que no último post mencionei algo sobre estarmos ainda no século XVI. Na verdade encontramos valores ainda presentes de milênios e, dadas as especificidades sócio-históricas, ainda permanecem. Em especial no que diz respeito sobre as relações entre os gêneros.

Outro dia eu vendo o Fantástico aparece a reportagem em que uma mulher processou a amante do marido por ele tê-la traído. A justiça entendeu que a culpa pela quebra de contrato do casamento se deu única e exclusivamente pela amante. E quase 50% das pessoas fizeram côro com a decisão judicial em uma enquete do programa: a culpa é da amante. O machismo presente também no discurso de muitas mulheres coloca a amante como uma ameaça ao sacrossanto lar e reforça o papel do homem como provedor: ele não é um ser a ser amado, mas alguém que paga as contas e mantém a casa, por isso talvez, evita-se processá-lo também. É como a Catarina da novela das 9: o marido é violento, mas para ela é mais importante ter posse de uma família, ainda que esta esteja completamente desagregada.

Hoje é confirmada a morte cerebral de Eloá. Em meio ao sensacionalismo da imprensa no caso, vem sempre a visão do namorado enciumado como um simples louco. Parece que os olhos são propositadamente tapados ao rotulá-lo dessa forma, jogando para debaixo do tapete que a visão da mulher como uma posse ou mercadoria na qual os homens se acham possuidores de todos os direitos ainda permanecem hoje.

Agora há pouco vim de um aniversário aqui em Copacabana. Três meninas adolescentes no ponto de ônibus e passam 3 garotos da mesma faixa etária por elas. Dois prosseguem o caminho e um deles passa a investir em uma delas. Diante da recusa da menina em sua cantada, o menino dispara uma série de palavrões contra a menina, que revida xingando-o também. Sorte a dela do garoto ter ido embora de uma vez.

O que fica para refletir em cima desses três acontecimentos é que eles estão unidos por uma mesma visão sobre o que se espera do homem e da mulher. E enquanto isso permanecer, tragédias como a de Santo André poderão se repetir.

Um comentário:

Marko disse...

Pois é, e viva o século XVI! Vi muita gente comentando essa da amante, e da Eloá nem se fala né, um absurdo essa história. Como estudioso de gênero, virei cético! Vi que escreveu sobre eleições... Em Juiz de Fora talvez o PT ganhe, depois de descobrirem que o antigo prefeito era mafioso... aff nunca estive tão desanimado da res publica como agora. E nem tenho res privada para me distrair! Abs