sábado, 30 de outubro de 2010

Duas reflexões de sábado

1) Estávamos eu e Osmar do lado de fora de um bar em Copacabana. Ele tinha que estar ali pelo fato de ser fumante e a lei, como já se sabe, proíba que se fume nos bares, ainda que do lado de fora.
Lá pelas tantas me aparece um senhor do bar dizendo para se afastar um pouco da posição que estávamos pois havia uma câmera filmando e se, a fiscalização da prefeitura visse, o bar pagaria multa porque tecnicamente aquela era área do bar e seria considerado um não cumprimento da lei.
Nesse mundo com linhas demacadas, vigília constante com aval e domíno do Estado ficamos com uma clareza maior sobre nossas amarras melhor até do que qualquer tese do Foucault ou ainda do livro 1984. Tudo isso porque ainda não vivemos - e considero por vezes impossível - sob o domínio do bom senso. Sempre há algo a nos policiar em nome do nosso "bem estar".

2) E no mesmo bar a Letícia me pergunta: como vocês homens conseguem separar amor do sexo? Pensei em trocentas mil teorias, mas na verdade bastou uma reflexão na forma como eu mesmo fui educado. Nós homens em uma ponta não damos atenção ao cuidado com o corpo - malhação é para satisfazer vaidade e se cultua uma suposta saúde dentro de um modelo que está na moda no nosso contexto capitalista (PSTU feelings) - e por isso a nossa expectativa de vida seja menor que a das mulheres. E ai vem o discurso do povão "o homem mete pinto em tudo quanto é buraco".

Na outra ponta, em um modelo também tradicional, as mulheres são educadas a guardar o próprio corpo, em especial no que diz respeito a sexualidade. Ao mesmo tempo não tem poder, dentro dessa visão, ou domínio sobre ele, dentro de nossa cultura machista. A união amor e sexo nesse contexto pode servir como uma justificativa ao prazer puro e simples negado às mulheres, algo que torna "sagrado" o ato sexual e atenua o estigma, caso bem diferente se uma mulher transa só pelo prazer .

Não seria o caso de pensar além dessas fronteiras e cada um admitir dentro de si o que lhe dá prazer, o que busca do ponto de vista emocional, o que faz ter momentos felizes no que diz respeito ao sexo e ao amor? Juntos? Separados? Não importa desde que haja franqueza e respeito para as partes envolvidas.

Baseado no que tenho visto com os meus envolvimentos nos meus últimos 2 anos, o que está faltando mesmo essa franqueza do outro em relação ao que sente e que, inevitavelmente, acaba resvalando no parceiro(a). Está na hora de matarmos a Jezebel e Maria que habita em cada um de nós - homens e mulheres - e tornar as relações mais humanas, sem a necessidade de se vender tão caro, seja como poço de santidade ou como o garanhão do pedaço.

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