sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sobre o "sul" do desejo

Agora fazendo aquela separação platônica que em tempos atuais tem se tornado demodê: corpo e espírito. No "norte" falei sobre aspectos físicos e agora, dado a uma série de coisas que aconteceram, pensarei no "sul", na parte mais baixa, aquela que deixamos de lado por várias vezes, mas podem irromper com uma força maior que muita violência física: as emoções.

Não me lembro se foi aqui no Liquididificador que mencionei um conto lindo do Mario Banedetti chamado "O Outro Eu", no qual um menino decide matar seu lado emocional, por não condizer com sua imagem masculina e, com isso ele se torna um ser invisível. De uma maneira mais bonita, Banedetti falou do que chamo neste texto de "sul" do desejo.

Vamos aos fatos: em uma viagem eu o conheci. Foi como um sonho, mas eu, pés no chão que tento ser, disse que a possibilidade de namoro a 1000km de distância era uma impossibilidade. No entanto nos perdemos, mesmo longe um do outro, a devaneios românticos, trocas de carta de amor, sms com "estou com saudades" e por ai vai. Sempre tivemos a consciência de que um dia poderíamos conhecer alguém, namorar e tal, mas esse sentimento não morreria. Esqueci-me de que no sul, o desejo não tem consciência.

Agora neste natal devido a uma série de exigências materiais dele tudo desmoronou. O "sul" do desejo mostrou a sua cara: ciúmes, tristeza, sensação de tempo perdido, necessidade de estar junto, vontade de bater, matar. Naquele momento pude entender todas as vilãs de melodramas e os assassinatos passionais do mundo real. De Medéia a Fera da Penha, tudo aquilo ficou claro como água.

Entendi todos os meus amigos que um dia se desesperaram e choraram por seres amados. No meu caso é preciso sentir a mesma coisa para que aquela dor seja mais clara para mim.

Fui vítima de do meu próprio desejo. Da necessidade de criar sonhos. Mas, repetindo o que disse sobre o "norte" do desejo, se não fossem os sonhos não teríamos sequer inventado a roda.

E é como a roda, que os ciclos vão e vem. Deixarei meu coração aberto, sem matar meu "outro eu" para o que está por vir em 2011.

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