sábado, 24 de julho de 2010

Tragédia

Certa vez um professor comentava que a tragédia que há em Édipo Rei não foi o fato do personagem-título ter matado o pai e casar com a própria mãe. A tragédia está pelo fato dele ter consultado o oráculo e ficar sabendo de tudo isso que, até então, lhe era desconhecido.

O acidente que matou Rafael Mascarenhas teve um detalhe desse tipo. Pelo que saiu no jornal ontem, ao pagar a propina para policiais no dia seguinte ao atropelamento, o pai do motorista do carro ficou sabendo pelo celular que a vítima era filho da atriz Cissa Guimarães e a partir deste momento ele entrou em desespero.

Pois é, antes ele sabia que alguém fora atropelado. Mas esses alguém era, em tese, um "desconhecido" o que lhe proporcionava uma ignorância parecida com a de Édipo ao matar Laio e se casar com Jocasta. Por destino, acaso, castigo divino ou seja lá o que for o atropelado era filho de alguém famoso o que joga o caso em praça pública, ou seja, na imprensa e ai há o risco de ter a imagem arranhada.

Acredito que um dos componentes dos pais em proteger os filhos dessa forma está no fato deles, pais, não quererem arranhar a sua própria imagem e passar o atestado de "olha o senhor criou um monstro" ou algo do tipo. Por isso há de se defender a "honra"da família e de si mesmo, já que a família funciona como instituição reflexo, ainda que use os métodos mais desonestos possíveis.

Não quero aqui diminuir a dor da atriz, afinal, não importa quem seja, a dor de uma mãe ao perder o filho, quando ela o ama, é sempre forte. Mas e se fosse com alguém não famoso? Teríamos a repetição do caso do índio Galdino queimado e Brasília ou tantos outros.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Licopeno


Todo gordo é metido a nutricionista e a saber cozinhar. Partindo desta ideia, certa vez com Osmar, víamos um livro sobre as propriedades químicas dos alimentos e no que eles eram bom para saúde.

A leitura rápida valeu a pena. Hoje, ao pensar em comprar tomate - algo que como, mas não sou entusiasta - dei de cara com um pedaço de melancia na promoção. Não hesitei e levei a fruta, afinal, ela também tem o licopeno, antioxidante - leia-se medo de ficar velho- também presente no tomate. Sendo que o tomate para ter um nível bom desse troço precisa ser cozido - dai os molhos neste sentido serem melhores que os tomates crus - ao passo que na melancia, bem como no mamão ele já se encontra em bons níveis cru mesmo.

Enfim, típica neura de gordo pós-30.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre dois livros

Estava eu vendo as notícias da manhã e naquele afã de ver hiperlinks, me aparece um para a livraria da Folha para o livro "A Experiência Homossexual da terapeuta mexicana Marina Castañeda. O trecho inicial de Sérgio Ripardo sobre o livro afirma o seguinte:

"Parece fácil jogar nas costas de um profissional a responsabilidade de fortalecer seu ego e recuperar sua autoestima. Nem todos conseguem pagar uma terapia. Em São Paulo, uma sessão com um especialista em atender gays e lésbicas pode sair por valores entre R$ 150 e R$ 250. Nem sempre se encontra a empatia esperada. Às vezes, falta especialização do profissional em questões típicas da homossexualidade, e as sessões não avançam, e você só perde o seu tempo e dinheiro. Já procurar um terapeuta gay pode ser uma grande roubada em alguns casos, não só pelo risco de você se apaixonar por ele, mas também por ele tentar aplicar certos modelos viciados de análise, já que só está acostumado a esse tipo de atendimento."

Bem, se for seguida essa lógica, os pacientes heterossexuais com terapeutas heterossexuais podem também estar em uma roubada pela possibilidade de ser apaixonar - Freud chama isso de transferência - ou ele pode aplicar modelos viciados de análise.

De qualquer forma, lendo o trecho do livro sobre o luto da heterossexualidade parece ser bem interessante e há um capítulo sobre a homofobia internalizada. Vale a pena a conferida no site.

Outro livro que me chamou a atenção foi "As Lésbicas- Mitos e Verdades" da filósofa e jornalista francesa Stéphanie Arc, em especial pela articulação entre a homossexualidade feminina e a associação entre mitos e esteriótipos de gênero.

domingo, 18 de julho de 2010

Preciosa


Passada a época do Oscar e todos os comentários sobre o filme Preciosa, de Lee Daniels, eu finalmente pude vê-lo e poderia colocar várias reflexões sobre esse excelente filme. No entanto, tentarei ser breve e chamar a atenção para Mary, personagem de Mo'Nique, vencedora do Oscar deste ano por este papel.

A personagem poderia resvalar em duas caricaturas: uma focada no individual como uma mãe megera, louca, psicopata fazendo suas maldades tal como uma bruxa dos contos de fada. Outra apelaria por um viés completamente determinista, dizendo que a personagem é produto do meio e não passa de uma vítima daquele contexto.

Na verdade Mary pode funcionar nos dois contextos e ao mesmo tempo nenhum deles. Sim, ela é louca, faz coisas que consideramos abjetas, monstruosas. Não entrarei em detalhes para não fazer spoiling. Por outro lado tanto ela quanto a filha estão ali naquele contexto violento em que talvez certos códigos poderia soar como naturais, internalizados então pelo medo que tanto ela quanto a flha sofrem por serem vítimas de violência.

Quando digo que a personagem é nenhum deles isso fica marcado pelo diálogo no fim do filme entre Mary e a assistente social Mr Weiss - vivida por Mariah Carey em excelente desempenho - na qual ela aponta a sua necessidade de manter aquele homem e transfere seu ódio para a filha. A filha que em um momento é a sua "Preciosa", fruto daquela paixão entre ela e o namorado se torna objeto de ódio por parte da mãe quando a filha é desejada pelo pai, nessa estranha e realista tragédia, uma versão atual do mito grego de Édipo. Ali está uma mulher longe da ideia da "boa selvagem corrompida puramente pela sociedade". O que se tem é que, mesmo pobre, ela é uma mulher de desejos e nesses desejos se mostra também a sua perversão.

Bem, resta agora esperar por Selma- do mesmo diretor - com estreia prevista para o ano que vem que trata da questão dos direitos civis nos anos 60 nos EUA. Robert e Niro está cotado para o papel de George Wallace, figura controversa na história estadunidense que merece atenção e uma personagem que, talvez, muito ator gostaria de fazer.

sábado, 10 de julho de 2010

Quanto mais eu rezo...

Essa semana foi, no mínimo, estranha no que tange relacionamentos com pessoas adeptas e praticantes de religiões. Preciso conversar com as duas instâncias da existência judaico-cristã a respeito disso.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pelo direito ao relacionamento

De repente parece que o mundo que me cerca resolveu discutir seus relacionamentos amorosos. Não que isso seja algo absurdo, aliás isso é salutar para a convivência a dois. No entanto parece que tanto eu quanto meus amigos passamos pelo mesmo processo esses dias. Deverei eu ver a posição dos astros?

Em meio a tantas reflexões pensei no que boa parte de nós fazemos. Procuramos muito ter uma relação, um namoro, um casamento. A palavra "relacionamento" oferece uma segurança afetiva e muitas vezes ela se torna maior mesmo que "eu" ou o "outro" com quem nos relacionamos. Tudo é feito para investirmos nessa entidade que acaba se tornando algo abstrato e amorfo, não trazendo prazer para nenhum dos envolvidos e deixa de ser algo concomitante ao encontro que temos com o outro.

Durante algum tempo pensei que relacionamentos eram difíceis em função de estarmos com outras pessoas e que a partir disso temos que lidar com as diferenças que temos e daí vem os equívocos, as brigas e as frustrações por estarmos com alguém que não se encaixa no molde que pré-estabelecemos para uma relação.

Se devemos dar um viva às incertezas e as dúvidas, como bem colocou o Marko em seu blog, ao mesmo tempo me veio uma outra ideia: o relacionamento como forma de autoconhecimento.

É bom reparar nas nossas repetições que trazemos em todas as relações. Por outro lado, pelo menos no meu caso, serve para pensar de que maneira tenho lidado com o meu poder pessoal, questão que não fica só no que diz respeito a relacionamento afetivo, mas vai para outros campos da vida. Esses dias tive uma constatação sobre como esse poder existe, ou melhor, como sou capenga em lidar com ele, mas ao mesmo tempo podendo reconhecer isso de maneira melhor. E ai sim posso me libertar de certos parâmetros que estabeleci para mim mesmo na forma como lidar com isso, colocando a dúvida e a incerteza e permitir viver as experiências amorosas sob um outro prisma, até que venha uma nova frustração e a partir dela me reinvente de novo.

Por isso todo mundo tem direito sim ao relacionamento amoroso. Creio que ali é um grande exercício para descobrirmos não o "quem eu sou", mas a maneira como estamos agindo em um certo momento da vida e se, caso aquilo tem trazido coisas ruins, que possamos modificá-las, nos reinventarmos. É um momento de se discutir sim o relacionamento, mas aquele que temos com nós mesmos.

Para descontrair um pouco

Bem, como o facebook e coisas do tipo são dados a puritanismos mesmo com fotos que foram publicadas na grande imprensa, eis aqui um flagrante deste mundial:














E, como diz um grande amigo, "cara, é corpo" eis aqui o dono da bunda acima mostrada:

















Arjen Robben, da seleção holandesa.

Resta-me saber se quando a pessoa for acessar esse blog haverá aquele aviso de "este blog pode ter conteúdo impróprio".

O caso Bruno


Mais que um caso de pessoa famosa envolvida em crime que desperta sempre aquela curiosidade do "o cara tem tudo, com pode ser bandido?", ou a tese preconceituosa do "tá vendo, o cara tem dinheiro, mas continua agindo feito pobre/preto/favelado", o caso do goleiro Bruno é sobretudo uma questão ligada a forma como se dão as relações entre homens e mulheres no Brasil.

O jornal "O Globo" perguntou a vários especialistas sobre o caso e a maioria deles apelou para um psicologismo absurdo. Pontos nesse caso foi para o Roberto da Matta, antropólogo, que falou sobre o "ethos" machista que há no futebol. O machismo não é privilégio do futebol, há na sociedade como um todo e em todas as classes.

As relações de poder de gênero se caracterizam, ainda nos dias de hoje, na noção de que o homem é dono da mulher, de seu corpo e de suas decisões. No que diz respeito à saúde reprodutiva, toda a responsabilidade é jogada para cima da mulher. O homem vive no paradoxo da responsabilidade no que diz ao trabalho, força e virilidade - "homem de verdade tem que ter caráter, não pode ser vagabundo"- e da "irresponsabilidade" no que diz respeito a sexo, e relações afetivase cuidado com a saúde "ah o cara é homem, é assim mesmo, pra que vi se preocupar em usar camisinha? Homem é feito bicho na hora do sexo".

Então temos a história de um goleiro que sai das classes mais baias e atinge o status que tradicionalmente os homens desejam: fama, dinheiro luxo, mulheres, sexo. Ele está em um lugar onde muitos desejam. Só que paraísos perfeitos não existem e todo cuidado é pouco quando se diz sobre poder.

Há o assédio por parte de muitas mulheres. No caso o desejo delas é o mesmo deles: fama, dinheiro e luxo. O acesso que algumas delas encontra é justamente pela via dos relacionamentos, sejam eles afetivos ou puramente sexuais. Talvez, sem fazer julgamento de caráter, seja esse o viés de Elisa Samudio. E como bem ilustra Da Matta, o desejado ali não é o goleiro, homem digno de ser admirado por suas glórias, mas sim o que ele tem financeiramente. Estamos em plena era do capitalismo e guerreiros míticos por suas glórias, porém sem dinheiro não cabe no discurso desejante de hoje, seja pelas mulheres que assediam esses jogadores ou um moleque de favela que sonha em ser jogador de futebol e deseja muito uma chuteira da Nike ou uma Ferrari. O heroísmo se dá por essas conquistas.

Justo com a necessidade de ser desejado há também a exigência da obediência ao poder do homem. Por ter transgredido também a essa exigência, pode ter sido esse o caminho que levou Elisa à morte. Há seus requintes de crueldade e perversão neste caso, mas isso só rendeu manchetes na grande mídia porque envolveuo técnico do time de maior torcida no Brasil. Casos como o de Bruno devem lotar as divisões de homicídio e Delegacias Especiais de Atendimento a Mulher de todo o Brasil sendo que esses mal devem ser notinha no jornal Meia Hora.

O fato é que antes de chamarmos Bruno de "monstro" ou "anormal", tal como chamamos o homem de "bicho" quando se diz a respeito de sexo deve-se pensar que o que ele fez é reiterado por uma sociedade que em pleno século XXI reitera a ideia de que a mulher é um objeto das vontades e necesidades masculinas, ao passo que a partir do momento que a mulher deseja alguma forma de poder ou desafia normas estabelecidas, ainda que esta também deseja viver dentro edesta norma (quero um homem rico para me deixar bem de vida) ela pode ser acusada de prostituição, receber nomes pejoativos, ser violentada ou até mesmo morta.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Zoot Woman - Just A Friend Of Mine

Musica que está bom para o meu momento amoroso ;)

Rolling Aristoteles












Todo gringo é flamenguista. (Premissa maior)
Mick Jagger é gringo. (premissa menor)
Logo, Mick Jagger é flamenguista (conclusão)

T9

A primeira vez que vi esse recurso tal de T9 para mandar mensagens para o celular achei um complicação só. Daí eu passei a usar meu aparelho antigo que sempre sugeria o site www.t9.com . Depois foi o Vando, nerd que é, me recomendando este recurso. Passei a utilizá-lo e estou adorando.

Remédio


Passo os lábios pela boca e sinto não mais o seu beijo, mas um gosto de melissa. Era resto de um chá para a garganta. Não sei as propriedades dessa planta para a dor que eu sentia. Não importava-me o gosto ou do que a planta era feita. Só a pimenta na ponta do nariz para permitir a respiração. São dias sem fõlego e não é por conta de um micróbio. É você, é a lembrança que aumenta com tua ausência.

Levo para o quarto a água (beba bastante líquido!) e o rádio. Toca a música de um alemão, música de cabaré feita nos anos 90 com cara de anos 20. Isso também não representa nenhum problema, porque sintonizei o rádio porque sabia que ali tinha música boa, não importava-me de quem era. Como a água quente e a erva-cidreira. O importante é a água quente dilatar os vasos e reduzir a dor. Pura, ela seria intragável. Por isso preciso de alguma folha com gosto minimamente agradável.

O alemão agora canta "we are the champions" como seu estivesse num filme de Marlene Dietrich. Só que o que eu queria era aquele som que interfere no rádio, um chiado estranho que avisa quando o celular irá tocar ou receber alguma mensagem. Aquele ruído que ora parece com trote de cavalo - isso deve combinar bem com caipiras - ora como um toque sutil na porta. No entanto nada de som, nada de notícia.

Descubro então que teu ruído é feito de silêncio. Tem uma capa de crise vivencial, porque tudo o que me disseste até agora não me parecem existenciais. Isso eu deixo para quem tira onda ouvindo jazz na mesma rádio que sintonizo com o resto de melissa no gosto da saliva misturada a das secreções de um resfriado. De qualquer forma o remédio liberta as narinas e a garganta. E meu pensamento se liberta da tua ausência na medida em que coloco cada palavra. Devemos, por isso, tomar muito cuidado com o que dissermos um para o outro porque palavras lbertam, mas também aprisionam na expectativa que damos ao outro. E isso terá aquele gosto ruim de sercreção sem remédio, não importando se a água está fria ou quente. A dor permanece e quando ela passa, remédio se chama desprezo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Superstição

Creio que hoje estou apegado a uma certa superstição. Neuróticos-obsessivos adoram isso. Pois bem, daqui a pouco jogarão Brasil e Holanda e acho que o Brasil não passará para as quartas (ideia da morte está no pacote do nobs) só porque estou fora de Araruama. Na última vez que vi o jogo off-Araru, o Brasil empatou com Portugal.

Engraçado como o supersticioso tem uma forte dose de narcisismo. Uma atitude dele pode mudar o mundo inteiro, pode ter uma reflexão que pode transformar o mundo inteiro. As religiões sempre souberam aproveitar isso, apesar de que, ultimamente, as pessoas lotam as igrejas não no sentido de estabelecer uma ordem para o mundo - pelo menos não é a ideia principal- mas sim de obter alguma forma de lucro pessoal. Por isso não vilanizo pastores, padres, pais de santo e afins por eles dizerem exatamente o que esses meus companheiros neuróticos desejam ouvir.