quinta-feira, 16 de março de 2017

Casa do Saber

O título dessa postagem vem da forma como o Evandro costuma chamar os motéis, ou hotéis pra finalidade sexual. Acho que ele nunca me disse a razão de usar esse nome, mas sempre acho interessante. E sim, creio que estou me repetindo nesse blog escrevendo sobre essa relação (saber e sexo), mas esse texto é base pra depois pensar sobre outro de caráter mais intimista.

Freud lá nos Três Ensaios, fala sobre a pulsão escopofílica e a pulsão de saber, na formação da sexualidade humana. A primeira, o ato de ver, seria derivada do ato de tocar e entendida como uma base, um caminho para a excitação da libido. Já a pulsão de saber, que para o pai da psicanálise aparece entre os três e os cinco anos de idade, é vista não como subordinada à sexualidade, mas uma forma sublimada de dominação. Por outro lado ela apresenta relação forte com a vida sexual, pois ela aparece de forma muito precoce e, talvez a inscrição da criança nessa pulsão de saber se dá justamente por questões sexuais.

Mais tarde, Foucault fala sobre a relação que os saberes apresentam com o poder (Yes, citei Fucô!)  e entre outras coisas na forma como eles serão disciplinadores, passando pelo psiquismo e pelo corpo e, consequentemente com a sexualidade.

E deixadas às referências dos autores anteriores, eu me lembrei que aos 11 anos assisti à novela Tieta pela primeira vez. Na primeira fase, a jovem protagonista se envolve com um homem mais velho que lhe diz que vai lhe ensinar o "ipsilone duplo" (acho que dá até pra fazer um link com o Canguru Perneta do Caco Antibes) e a partir da descoberta pelo pai que ela estava tendo relações com aquele homem, ela é expulsa de casa (olá disciplina), dentro do contexto machista de Santana do Agreste e, anos depois ela volta pra cidade, mais "experiente" e, ironicamente, será a tia que ensinará para o sobrinho virgem seminarista os prazeres do sexo. Outra relação, essa observada mais como de poder do que sexual, um abuso na verdade, é com o coronel Artur da Tapitanga, que quando quer que suas "rolinhas" lhe satisfaçam sexualmente, diz-lhes que vai ensinar o abecedário.

Acabou que descambei pra análise de uma telenovela que vai reestrear em breve no Viva, deixa eu segurar o freio de mão que daqui a pouco começo a fazer análise sobre Maria Imaculada, que é praticamente a Sheherazade do Agreste.

Voltando ao ponto, não deixa de ser interessante em pensar sobre essas relações sobre saber e poder. Eu estou sempre citando esse livro do Robert Hopcke, que entre outras coisas fala na relação puer-senex entre homossexuais, isto é, os jovens com homens mais velhos. Na compreensão deste junguiano, essa relação se dá não pelo fato do jovem querer um substituto para o seu pai, como poderia se pensar dentro do Complexo de Édipo freudiano, mas por querer encontrar alguém que o guie (pelo saber, penso eu). Os homossexuais não possuem rituais para as suas práticas (o texto é de 1989, só pra ressaltar), sendo o mais emblemático o casamento, Então a busca de um homem mais velho seria uma forma de compensar essa ausência de ritual, por encontrar alguém já inscrito na homossexualidade. Eu extrapolaria e diria que seria para uma das diversas formas das homossexualidades,

E me pego refletindo agora, o que tem toda essa papagaiada puer-senex sobre a ideia do saber?

Refleti sobre o que meus amigos que se envolveram com homens mais velhos (até eu mesmo, aos 21 anos) e quando confrontados (tudo que sai do esperado, como uma relação entre pessoas com grande diferença de idade é questionado, não?) sobre as razões do jovem querer alguém mais velho as respostas eram desde "tem mais experiência", passando pelo "é mais estável emocionalmente, diferente de outro jovem" até mesmo por alguns que queriam pessoas mais velhas pois eram mais "discretos, não dão muita pinta" pois talvez haja aí a ideia de que uma pessoa de uma geração anterior fosse menos "fechativa", pois viveu numa época de maior repressão.

De qualquer forma essas respostas e as reflexões que podem ser feitas a partir delas mostram o quanto desse saber pode ser capitalizado nas relações de acordo com os próprios desejos (alguém que saber amar, alguém que saiba ser discreto) entre tantas outras coisas.

A questão é que na realidade, assim como as instituições de saber que Foucault menciona, não são as mesmas por passarem por transformações, os saberes mudam, penso também, isso não se dá dentro das próprias relações? Mas aí é um outro questionamento: o que ainda está pra ser descoberto, seja na "casa do saber" ou fora dela?

Nenhum comentário: