sexta-feira, 17 de março de 2017

Da performance às descobertas

Quando comecei a pesquisar sobre masculinidades, a minha antiga supervisora me passou uma série de textos sobre o tema. Entre eles havia um que me chamou a atenção que era um que ligava a expressão sexual masculina como uma "performance". Não no sentido de Judith Butler, mas de uma forma mais geral.

O que eu pude constatar na minha própria vida, na de amigos meus e no trabalho era exatamente o quanto era importante não só apenas obter sexo, mas ser o cara que não brocha e conquistador para caracterizar bem essa performance. E ultimamente vendo páginas no Facebook, tanto gays quanto com presença de heteros isso fica bem visível, incluindo entre aqueles que se colocam como desconstruídos.

Essa relação da performance com as diversas masculinidades passaram a me chamar a atenção. Os homens hetero preocupado mais com suas conquistas. Alguns com o próprio prazer. Outros, que dizem que o homem de verdade tem que fazer um bom sexo oral na mulher, na verdade mais preocupado com o seu desempenho em si que realmente com o prazer da parceira.

Em algumas páginas gays vejo a mesma coisa. Há na auto afirmação sexual mais uma preocupação de se mostrar narcisicamente como fazem o sexo, ou que possuem atividade sexual. E não tiro o meu corpo fora, pois muitas vezes eu mesmo me pego pensando ou agindo dessa forma.

Daí faço uma ponte com a questão da alteridade e dos saberes, tal como mencionei na postagem anterior a essa. Na questão da alteridade há uma relação em que o sexo a ser dito, sabido pelos outros, como forma de marcar um "eu sou assim". Como selfies no instagram. Aliás sobre essa relação narcísica, o professor e psicanalista Christian Dunker, coloca bem neste vídeo: essa afirmação do eu não é uma maneira de se sentir grande e absoluto, mas uma tentativa de colocar num pequeno espaço a precariedade do próprio eu. De repente com essas formas de expressão sexual pode ser algo assim.

No que diz respeito ao saber, pensei em "Amar Verbo Intransitivo" do Mário de Andrade, no qual o pai de um jovem paga uma mulher, disfarçada de ama-seca, para tirar a virgindade do filho. Esse saber desse pai e da mulher era uma forma de, lá no começo do século XX, colocar o menino dentro do mundo masculino, torná-lo homem. Passados cem anos e com uma série de mudanças comportamentais e inseridos no mundo capitalista, nossa "fraulein" são os vídeos pornôs com homens com pirocas gigantescas, que não brocham e seguem um roteiro meticulosamente definido. Claro que com a crescente exposição da internet, tem crescido também o número de vídeos amadores, mas até esses passam por uma seleção, uma escolha do que vai ser postado.

Não quero também fazer aqui uma "Crítica Social Foda" ou demonizar a sexualidade ou ficar determinando regras de como cada um exerce seu prazer. Esse texto na verdade é uma reflexão que se restringe as minhas vivências com meu prazer e o que tem surgido de novo nesse sentido. E não consigo deixar de relacionar essas minhas vivências com o mundo que me cerca.

Entre o segundo e o terceiro namoros meus vivi uma série de novas experiências e até mesmo desilusões amorosas. No que diz respeito a papéis, de viver um período de cinco anos solteiro. E isso passa também pelas primeiras experiências com outros homens negros como eu, mas isso seria tema para um outro texto. Enfim, muita coisa se passou e com essas novidades, ganham-se novos saberes.

No atual namoro essa descoberta ainda continua. Tesão em partes do corpo até então ignoradas e a experiência de ter o primeiro namoro oficialmente aberto. E diante disso há sim momentos em que precisam ser confrontados saberes passados que, mesmo não fazendo mais sentido no presente, ainda persistem. Especialmente neuras em relação à performance sexual, a necessidade de conquista e de auto-afirmação, enfim, tudo que foi mencionado anteriormente. De qualquer forma eu digo que o momento atual, perto dos 40 anos, tem sido a fase mais feliz da minha vida nesse (e em outros) aspecto da minha vida.

E isso de dá pelo processo de descoberta. Na relação sinto que me descubro também quando estou com o outro. Aliás um item fundamental que descobri numas das minhas ficadas naquele hiato de cinco anos foi isso: estar com alguém que me deixe à vontade e que eu permita o mesmo a essa pessoa. Acho que é fundamental para que descobertas, prazeres novos, enfim que muita coisa boa aconteçam

Assim penso que essa mudança de percepção sobre nós mesmos pode realmente provocar uma grande mudança, até mesmo para questões ainda maiores de nossas vidas. Tenho reparado por exemplo o quanto tem sido importante a necessidade de escuta numa conversa, uma vez que tendo a falar demais de forma até rápida atropelando tudo. Enfim, esse novo exercício pode provocar uma mudança naquela velha pergunta de sempre "quem sou eu?"

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