domingo, 12 de fevereiro de 2012

Bichinha de Parada

Há uma noção reacionária que diz que a relação entre politica e sexualidade é algo do século passado, coisa de maconheiro que lia Marcuse em 1968. Só que quem tem um mínimo de noção de que sexualidade permeia nossas identidades e que política fala essencialmente de poder, nada mais humano, demasiado humano nos dois temas, com ou sem maconha, 68 ou 2012.

A Parada Gay é vista muitas vezes como um carnaval pura e simplesmente. Um argumento sem estrutura porque na verdade é só dia de celebração para que um grupo da sociedade possa celebrar a diversidade da sexualidade e convoca a participação de todos. Por isso há de tudo, da bicha bate-cabelo à senhora com o netinho. Diversidade, esse é seu nome.

Por outro lado a luta política se dá no dia a dia, na cobrança de nossos direitos junto às 3 esferas do poder e na educação, que é o ponto mais importante para nossa plena cidadania.

Dito isso recebo uma conversa no qual um homossexual, a fim de ridicularizar o outro diz que seu amigo não merecia ter um namorado cujo amigo é "uma bichona', "um afeminado" e, "do tipo de ir na parada gay".

Estou me indagando ironicamente se há um tipo para ir na Parada. Eu já fui, será que eu tinha o tipo? Em que lugar eu vou para fazer o exame se estou apto para isso e pegar as minhas credenciais.

A "pinta" para muitos homossexuais masculinos é como o "tom de pele' ou o "nariz afilado" dos negros. Algo como "ah você é gay, mas que bom você nem dá pinta" é correlato do "ah você é negro mas não é tão escuro e seu nariz é fino ou o cabelo é bom". Naquela base.

Essa fala reproduz exatamente isso. O cara que vai na Parada e assume publicamente seu desejo, assim como a pinta, é motivo para a ridicularização de uma alma infeliz que não tem a coragem de se olhar no espelho. A projeção de seu desejo em igual - um homossexual que não tem medo - causa medo (fobia) a esse ser humano que teme que seu desejo seja conhecido. É um paradoxo que se resolve a partir da criação de hierarquias tolas que no fim das contas serão inúteis para as nossas conquistas.

Se você busca ter a união civil pouco importa se você dá pinta ou não. O juiz não vai levar isso em consideração. O pastor ou padre que prega contra gays bem como o skinhead que nos agride também não levam isso em consideração. Aliás já tem até pai e filho agredidos pela mera demonstração de carinho, mesmo sendo eles heterossexuais.

A Parada de certa forma é uma transferência e resistência. Resistência na ridicularização quando um desejo que não quer ser assumido ou sabido não pode sê-lo. Nesse sentido ela dá ótimas pistas de como os próprios homossexuais podem, muitas vezes, serem homofóbicos, jogando ao outro a sua homofobia interna.

Ditos isso tudo resta-me o desprezo por esse tipo de viado. E fico com Betina Botox que diz "respeito é bom e a gente gosta". Um viva para as bichinhas de Parada.

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