quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Ju e Re


Marilyn a observa de lado e estranha a pesada maquiagem


- Rê, o que você fez?
- Não viste as visitas de ontem? Uma delas trabalha com maquiagem de grandes estrelas lá fora. Mas de vez em quando arruma uns frilas quando de férias no Brasil.
- Percebo...tá diferente, te traz um ar de felicidade.

Telefone toca, era Ju a interromper a conversa junto à parede. Foi só o tempo de sacar depois uma bela imagem e colocar no desktop. Um perfil belo e sério de fim de carnaval que a cabeça que quase sofrera uma concussão dias antes ainda tinha a capacidade de captar.

Mas a hora não era para perfis nem paredes, era hora do diálogo.

(...)

Fim de tarde, Ju na cadeira em comportamento inquieto não decide ainda como acompanhar o sol. O certo é que insiste freneticamente em coçar as partes, não se sabe se por areia, tesão ou chato.

- Rê, como você me coloca em uma roubada daquelas. Toda vez você cisma em chegar em alguém que já cheguei, que coisa chata isso. Ou então me empurra gente feia. Façamos um trato em relação à última conquista, já que nós dois conseguimos: quem quiser chegar junto tem que falar com a gente primeiro. E lembre-se, não é fifity-fifity porque não é assim que a coisa funciona. Lembra-se daquela outra que eu peguei e depois você foi em cima? Pois é, ela me disse que você confundia as coisas, que era só amizade. Lembre-de de que tem pessoas que estão só a fim da sacanagem e tal, tá liberada. Para outras não é assim que a coisa funciona. E sim, já já vou dar um mergulho, passar a zero na cabeça e me cuidar porque engordei muito, minha imagem é feia. Mas não arrume gente feia para mim.

Ju era uma metralhadora de palavras, sempre de costas para o sol. O corpo cheio, rosto bonito e pernas grossas eram bem realçados pelo som, ainda que em movimentos constantes, frenéticos, entre a indefinição sobre o que se pensa do seu desejo, ansiedade ou simplesmente desorientação. Ou tudo isso junto. Coisa que Marilyn, por ser mito, desconhecia, pois era uma imagem linda e kistsch na parede.

Algumas mulheres ali perto pensaram que pelo jeitão com certeza Ju era do mercado financeiro. Sabia classificar bem suas conquistas, estabelecer cada tipo psicológico e negociar com suas amizades como deveriam ser as relações com cada uma delas. Planejamento estratégico era a palavra de ordem na areia e Rê sabia reconhecer bem isso,. No fundo o que todos desconfiavam é que Re e Ju deveriam sempre estar em companhia eterna, seria mais bonito que o mais belo dos casamentos. E tesão não faltaria com certeza.

Mas era hora de partir. Ju em dois mergulhos rápidos demora demais para pegar as coisas. E anda pela praia e depois pelas ruas em ziguezague. Assim como o poder de barganha e classificação, ela adquirira a mania de andar na vertical e na horizontal pelos corredores do mercado em que trabalha. Então, tal como Marilac, decidiu naquele verão fazer algo diferente e andar em diagonal. Com paradas estratégicas para colocar cada pessa de roupa.

O Fundão ainda espera Ju numa festa naquela noite...

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