quarta-feira, 25 de abril de 2007

Escritos do inferno astral (3)

Um dos sonhos mais antigos que eu me lembro, creio que é um que era recorrente na minha infância e que comecei a ter aos 4 anos. Ele se passava na estação do metrô aqui da Glória mas a estação tinha outro nome: Mash (sim a marca da cueca e por extensão lembra a palavra "macho"). O metrô era diferente, parecia um foguete com uma ponta parecendo uma grande agulha (sim, era outro elemento fálico). Estava com meu pai só que eu ia na estação porque lá tinha uma farmácia e eu tinha que tomar uma injeção e eu chorava de medo...medo da injeção e do barulho que o trem fazia.

Se eu for me lembrar da minha primeira noção de desejo sexual vou voltar exatamente para essa idade. Neste mesmo período eu já ia para o Centro da cidade com o meu pai quando ele tinha que resolver algum assunto por lá. Lembro-me que era muito doloroso quando ele não me levava e, de fato, eu chorava horrores. Coisas de criança. Aliás era lá no Centro que eu ia na loja comprar roupas e via as caixas das cuecas e sim, já ficava tenso com as imagens.

Também nesta fase eu, no metrô, sempre era alertado sobre a faixa amarela, a qual eu não poderia ultrapassar para manter a minha segurança. Alertado pelo pai, lógico.

Hoje com quase 29 lembrei do que um amigo amado me fala sobre faixa amarela, um limite pessoal que o outro não pode ultrapassar, como uma forma de manter a própria identidade. E, porque não, a própria segurança de si, a sua vida, tal como eu menino lá na beira da plataforma do metrô.

Ontem, uma discussão sobre um simples download que eu fiz gerou essa reflexão sobre a faixa amarela...fiquei pensando em como o outro, muitas vezes apresenta um medo forte de baixar a guarda, de mostrar as suas fraquezas e impõe, como defesa, uma séria restrição. Mais que uma restrição, um desejo onipotente de querer me punir e depois me desculpar, aos moldes de um pai. Talvez cabe lembrar que se a faixa amarela ficar ali o tempo todo, por mais que ela garanta a sua sobrevivência, quando o trem chegar - esse trem desejo dos meus sonhos - ele não poderá ser pego e estará ali preso na estação, com o desejo transformado em punição ou dor, como o garoto morrendo de medo da farmácia e do barulho desejante "mashhhhhhhhhhhhhhh".

Está na hora de eu pegar o trem da minha vida!

Um comentário:

José Carlos Costa disse...

Lembrei do filme "Fale com ela" do Almodovar, vc já assistiu? É isso mesmo, abaixamos a guarda, o outro nos dá fraquezas e limites, mas também nos fortalece e amplia nossa silhueta, a gente cresce! Eu diria que a faixa existe para ser ultrapassada! ;)
E pegue o trem sim, e de preferência vá sentado confortavelmente nele! Vai dar uns solavacos na viagem, mas ela vale a pena!
Beijossssssssss