quarta-feira, 4 de abril de 2007

O rei está nu

Pois é, eu tenho andado esquisito...

Ando, paradoxalmente, com uma necessidade de recolhimento e ao mesmo tempo uma vontade de ser visto. Pra ser mais exato, de aparecer, de liderar. Meus sonhos têm me mostrado isso de forma clara: pilhas recarregáveis, homens bonitos, privacidade, televisão...tudo ligado a aparência, ao meu temperamento e a forma de como quero ser visto. Até mesmo de blog mudei por achar o outro horrendo (me perdoem a repetição). Narcisismo gritando.

E nesse isolamento ando com uma necessidade enorme de ler e pensar, colocar coisas no papel. Enfim, como um amigo me disse "você é uma máquina de pensar" e eu incluiria o substantivo "besteiras".

Falando sério agora, lembrei de outra coisa absurdamente paradoxal. Uma "persona gratta" recentemente falava sobre a minha forma de me vestir e de como ela não se encaixava em nenhuma tribo, ou idéia, seja lá o que for. Pareceu com um tom de desaprovação, reforçando a idéia consumista da "atitude" que de atitude não tem nada: ela pode ser confundida com grosseria gratuira - falência do "em nome do pai", isto é, as regras - e puro consumo, imperativo do gozo "compre! compre! compre!"..no caso, roupas novas.

De fato isso me forçou a ter um "DR" (discussão de relacionamento) com o meu armário (eita, quantos elementos simbólicos) e ver as minhas roupas gastas e escuras, sem graça... nada que um dinheiro extra não resolva depois, por roupas mais coloridas e vibrantes dando um tapa na senilidade matando aquele garoto preocupado em não "demonstrar" (seja lá o que isso for) a sua própria sexualidade. E acho que o fator "ser/estar gordo" contribui para reforçar essa armadura que, dada algumas conclusões desse recolhimento, já não faz mais sentido. Ponto para a "persona gratta", que nesse sentido estava com a razão.

Ah sim, o paradoxo: uma "persona non gratta" que eu conheci há 10 anos me dizia naquele tempo a mesma coisa, que eu não me encaixava em tribo nenhuma e falava de forma elogiosa, não reprovadora. Isso foi engraçado, muito embora eu me considere muito conservador com certas coisas e idéias. É como a tatuagem: acho lindo nos outros, mas não faria em mim mesmo. Mas em um mundo em que todo mundo quer ser ridiculamente especial, talvez o meu jeito de ser que não tem nada demais, acabou ganhando destaque aos olhos da tal "persona non gratta". Basta ir na rua e ver o quanto de coisas consideradas "alternativas" já estão nos corpos das pessoas aos montes, como se as pessoas fossem produzidas em uma verdadeira linha de montagem fordista.

Lembro-me de um professor que eu tive,que dizia: o grande barato ao se fazer análise é que nos achamos tão especiais e lá dentro nos damos conta do personagem ridículo que somos. Pensei no duo :"Tragédia e comédia"...os grandes sintomas trágicos escondem talvez o que há de mais ridículo em nós mesmos, dependendo da sua natureza. Basta lembrar do conto infantil "A roupa nova do imperador" em que o rei que se achava tão especial, de repente, graças a uma criança - a de sexualidade perversa e polimorfa- ri dele e mostra a tragicomédia da personagem principal ao gritar "O Rei está nu!".

Outra coisa que a esqusitice desses dias me trouxe foram esses versos de Thiago de Mello publicados no livro "Os Estatutos do Homem":

"Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora."


Tenho esses versos como filosofia de vida, talvez. O fato é que essa sensação de despertencimento a grupos podem traduzir exatamente o pensamento que eu tenho de que lobos e cordeiros vivem em mim...aliás em todos nós. Nada de especial nisso, basta apenas reconhecê-los. Por isso posso ser criticado de um lado, elogiado por outro.

Cá estou eu colocando as minhas reflexões e assumindo o meu ridículo também, desnudando-me com meus lobos e cordeiros.E a esquistice passará em uma nova aurora.

2 comentários:

EDUARDO OLIVEIRA FREIRE disse...

Estou na faze de me me recolher de novo.

http://dudu.oliva.blog.uol.com.br/

Keid disse...

Seu texto me deu insights preciosos.