segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Da janela lateral

Existem desejos que ele, naquela noite não quis admitir. No entanto havia no ar aquele falso esquecimento que deixa luzes acesas e a janela a vista de todos. Ele, apenas mais um naquela multidão de quadrados lado a lado de repente mereceu atenção. Não por quem ele era - as janelas confirmavam seu anonimato-, mas pelo que ele fazia.

Ela, mais esperta já tinha chegado a esse conclusão há muito tempo e, simplesmente não ligava.

Terminado o ato ele se dá conta de sua passividade. Ele que por uns breves minutos era quem estava literalmente por cima ainda que com a maior parte do corpo vestida (o que ele esconde?) de repente se viu ali, flácido, vulnerável ao olhar do outro. Esteve o tempo todo sem o menor controle e estava realmente solto quando se achava no controle da situação. O que acontece é que ele escamoteou o próprio desejo de ser, de alguma forma, o alvo do desejo e não só o que deseja aquela mulher que simplesmente não ligava. Desejo de um anônimo perdido em outra janela igual a dele.

Tão forte era isso que no fim apelou para um xingamento impessoal, a tentativa inútil de que era ele o dono do jogo. Tarde demais. Ainda que o olhar do outro o tornasse alvo de algo especial que ele, ao recobrar a consciência custou em admitir. Não, ninguém perdeu nada ali. Quem se perdeu mesmo, foi ele.

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