domingo, 2 de janeiro de 2011

A terceira noite

Então fica combinado que teremos vários desencontros e ausências de sinais de vida. Essa noite tem cara de tédio, com uma chuva que em nada se parece com o verão. Melhor descermos e irmos até lá, hoje é de graça e aqui o tédio pode nos devorar.

Passemos, há um grupo de caras iguais na rua. Todos são carecas. Todos são gostosos. Todos usam camisetas. Qual o filme que vimos ontem? "A Onda", do professor que fala de autocracia e fala para seus alunos que mesmo o colégio não adotando uniformes formais, aquelas jovens já usam uniformes pela maneira que se vestem. Qual o nome disso? Sei lá, tem gente que chama de "sistema". Calma, que o sistema hoje vai dar mais o ar de sua graça.

Há aspectos positivos de marte e urano no salão, isso depois da saudação costumeira ao jornalista da casa, aquele que dá notícia de tudo e é mais eficiente que qualquer rede social. No entanto, os aspectos positivos partem e resta do lado de fora aquela senhora com a taça de vinho e o cigarro.

Ela afirma que há possibilidades para a gente, mas aquele lugar tem um sistema fixo e determinado que impede certas inserções nossas. Pode ser que haja uma exceção a regra, mas hoje não há saco para buscar exceções, porque na verdade nós mesmos já a somos, de certa forma.

Há uma sistah de uniforme interessante a meus olhos e que atrapalham os seus ao ver aquele cara que parece irmão daquele famoso personagem de série de TV. Ele é loiro, narigudo, tem olhos claros e a cada momento senta em um lugar diferente. Antes disso há aquele que se parece com seu pai que olha, olha e olha e não diz nada. Só que ele é amigo daquele coroa que estava com aquele gaúcho - foi tu que descobristes isso, guri! - que mostra para a gente o quanto a vida é tirana certas vezes. Ou pior, ele mostra como o sistema funciona e como nosso desejo está excluído dele.

Conversemos mais com a dona do lado de fora. Observemos os que entram e saem: o amigo da sstah de vermelho, aquela velha que já conhecemos de algum lugar, a gorda que lembra Maricotinha entre tantas outras figuras. E sistah, c'mon. Stop dancing in front of my friend. Ele que assistir o seriado, o que vai acontecer ali.

E o que acontece? Ele, o narigudo se esconde em uma das poltronas do canto quando achamos que ele já partira. Fume mais um cigarro, converse com ela, que adora ir naquela boate para ver os caras dançando de pau duro. Ela tem cinquenta anos, e foi no ano passado que, ao voltarmos da sessão de tarot com cinquentenárias animadas, dizemos que 50 é o novo 30. E termine isso, há uma surpresa passando bem na nossa frente enquanto subimos as escadas.

Passam aqueles dois. Um é "mais ou menos" tem a barriga projetada para a frente e a cara não parece boa. O outro parece um espírito de um natal passado seu, só que ele não teve tempo, mesmo com a ceia, para engordar daquele jeito. Fique tranquilo que é só um susto, assim como seu pé na poça d'água pegajosa. A gente, não por sermos do contra, mas a favor do nosso clima tropical saímos de chinelo que nos levam longe.

Dessa vez nos levam ao andar daqueles dois em labirinto. Veja, primeiros eles iriam para o salão, mas ao nos ver, desistem. Seguem atravessando a transversal. Depois atravessam a principal e voltam pelo outro lado como se fosse um "l". É tão louco o movimento que aquelas criaturas fazem que só de escrever, cansa. Quem não cansa é a criatura mais bonita que tal como a mulher de Ló insiste em olhar para trás em meio a alguns sorrisos. Essas almas, meu caro, querem muita reza.

Até que elas atravessam vagarosamente para o outro lado da outra avenida principal junto à praia e, timidamente e no meio da chuva que começa a cair de novo vão em direção oposta. Resta nos ver o solitário no poste antes de seguir para Rio das Pedras desenvolvendo um ponto de interesse geológico. E deixa aquele branquinho magro passar pro outro lado da rua e se divertir com a bebida que carrega para as rochas na outra ponta. A nossa noite já teve o estoque de coisas estranhas, mas que deixo aqui para serem registradas e nos perdemos, daqui a alguns anos, pelas nossas memórias traídas indagando "mas o que foi que aconteceu mesmo?". Nada, só foi a terceira noite de dois mil e onze.

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